Carlos Henrique Silva
OLINDA E RECIFE TÊM CARNAVAL DE RUA CANCELADO, MAS SHOWS PRIVADOS ESTÃO GARANTIDOS
Atualizado: 6 de jan. de 2022
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Foto: Paulo Paiva/DP
Conhecida pelas ladeiras do Sítio Histórico cheias de foliões, a cidade de Olinda vai enfrentar o segundo ano sem o seu tradicional carnaval de rua, o maior do mundo. No anúncio, feito nesta quarta-feira (05.01), a prefeitura justifica o cancelamento pela permanência da pandemia da Covid-19 (minimizada a partir da vacinação, mas agravada por suas variantes), e pelo aumento do número de casos de influenza. No final do dia, a prefeitura do Recife também anunciou a suspensão do Carnaval de rua na capital.
Diante disto, é de se imaginar a cadeia econômica e cultural que será prejudicada novamente com a ausência da maior fonte de renda do município, com destaque para músicos, organizadores, agremiações, artistas independentes, pousadas, comércio ambulante, catadores e demais ramos de trabalho autônomo. Outras agremiações tradicionais, como o Homem da Meia-Noite, Pitombeira dos Quatro Cantos e Eu Acho É Pouco, já haviam anunciado que não vão desfilar pelas ruas da Cidade Alta deste ano.
A prefeitura da cidade afirma que, assim como em 2021, serão investidos recursos de R$ 3 milhões distribuídos em dois eixos: Auxílio do Carnaval (de teor emergencial e voltado a entidades, grupos e artistas representantes da cultura popular e tradicional do município e ambulantes) e o Circuito Cultural: Fomento à Cultura (em caráter de médio prazo, voltado à realização de festivais municipais multiculturais e exclusivo para agentes residentes ou domiciliados no município).
Em dezembro, o secretário de Turismo e Lazer do estado, Rodrigo Novaes, havia afirmado a possibilidade de realização do carnaval de rua em 2022 com desfiles e apresentações de blocos carnavalescos em espaços fechados como estádios, clubes e parques de exposição, mas a ideia não avançou. Diante disto, ficam as indefinições sobre o auxílio às pessoas que desenvolvem atividades envolvidas com a folia, ou de formas alternativas e adaptadas ao contexto ainda adverso.
Se as restrições valem pelo lado público, o paradoxo é a definição das festas privadas, que neste caso, ficam a cargo de autorização do Governo do Estado. Nas regras atuais, as festas podem reunir até 7,5 mil pessoas ou 80% da capacidade do local em que forem realizadas, o que for menor.
Em Olinda, a prévia Olinda Beer já está marcada para o dia 20 de fevereiro a partir das 9h, e já comercializa ingressos na faixa de 80 a 400 reais. Durante os dias de Momo, as megafestas também estão autorizadas, como Carvalheira na Ladeira (no Parque Memorial Arcoverde, já no 3º lote e com valores entre 580 a 630 reais por dia, ou em pacotes promocionais de 2.230 a 2.440 reais), e o Camarote Olinda (de 480 a 970 reais a entrada). Na capital, as estruturas do Camarote Parador e do Carnaval Boa Viagem já estão sendo montadas, com restrições mínimas de comprovação de vacinação, mas sem outras observações quanto a distanciamento ou uso de máscaras.
Completando-se 2 anos de pandemia, as políticas públicas voltadas à cultura local e à economia que gira em torno dela parecem não ter conseguido se adaptar a este novo contexto. Restam, desse modo, as antigas indefinições, ao passo que as grandes festas continuam se modernizando, alcançando público restrito com atrações nacionais e alto investimento de empresas.

Foto: Rafael Furtado / Folha de Pernambuco
REAÇÃO - Logo após o anúncio da suspensão das festas pelas prefeituras, um grupo de artistas se mobilizou em encontro promovido pela Associação Brasileira dos Promotores de Eventos (Abrape), como o Maestro Spok, Gerlane Lops, Almir Rouche, Rominho (vocalista da banda Som da Terra), Marcelo Melo (do Quinteto Violado) e Bia Villa-Chan. Diante da preocupação com a situação das manifestações populares, a proposta é fazer uma carta aberta ao governo do Estado, pedindo a autorização para a realização de shows gratuitos com controle de acesso mediante comprovação de vacinação, em locais como clubes de bairros e espaços de festas privadas como o Classic Hall, em Olinda. Desta forma, a população em geral não ficaria de fora, justamente da sua festa mais participativa.