Carlos Henrique Silva
Uma abertura pra dar voz à cultura e à periferia pernambucana
Atualizado: 23 de nov. de 2021

"Parece a virada do ano", comentou uma senhora no meio da multidão da praça do Marco Zero, quando viu a queima de fogos anunciando a abertura do Carnaval 2020 do Recife. A festa já vem sendo celebrada desde semanas antes, nas ruas e becos do Recife Antigo e também nos bairros, mas na noite desta sexta-feira (21), o evento ganhou um tom político e de exaltação à diversidade cultural local.


A programação iniciou valorizando o frevo de rua e o carnaval tradicional, com a Orquestra Popular do Recife e o Maestro Ademir Araújo. Outra presença cativa nos carnavais, a secretária de Cultura Leda Alves abriu oficialmente os dias de festa demonstrando força e atividade aos 88 anos, com um discurso de resistência das manifestações culturais e das políticas públicas de incentivo, que vêm sendo recriminadas e desmontadas pelo atual governo federal.



A apresentação de Antônio Nóbrega reforçou o tom político da abertura, quando apresentou um espetáculo marcado pela presença das crianças e o universo do circo. Isso se deu com a exaltação de personagens como Paulo Freire e a importância de se preservar a vida e as manifestações dos povos indígenas e de matriz africana. Em seguida, um verdadeiro desfile de artistas já consagrados como o maestro Edson Rodrigues e Bloco das Flores (homenageados deste ano), Maestro Forró, Ed Carlos, Getúlio Cavalcanti e Fabiana Pimentinha.
O auge da noite era mesmo a apresentação de Priscila Senna (também conhecida como a Musa), uma presença que faz parte da realidade das periferias pernambucanas há uma década, mas que somente agora vem para o palco principal da folia. O ritmo do brega romântico, tratado com preconceito por parte dos críticos, firmou-se como cultura pernambucana e é impossível negar a popularidade e as dimensões que alcançou.

Uma prova estava na quantidade recorde de público, que respondia a uma única voz as músicas conhecidas "na ponta da língua". Para sintonizar com os maiorais do Carnaval e não apenas ficar na "sofrência", a Musa passeou pelas composições de Jota Miquiles e músicas tradicionais como o Hino do Elefante de Olinda, Galo da Madrugada, Pitombeira e outros.
Em resumo, a voz das periferias falou alto nesta abertura, periferias que estiveram presentes com muita dança, amor, emoção e diversidade. Mesmo que depois do final da festa, a estrutura da cidade ainda não é suficiente para facilitar o escoamento desse público para seus bairros e cidades, principalmente no transporte público.